NOTÍCIAS

UOL – Família de Nanda e Lan Lanh pode ajudar Brasil a enxergar dupla maternidade
22 DE OUTUBRO DE 2021


Sempre quis casar, ter filhos, formar uma família. E, desde os 18 anos, quando entendi que sou uma mulher lésbica, busco referências de famílias formadas por duas mães.

Como repórter, conheci dezenas delas, como a da Marcela e da Melanie, mãe de gêmeos de 3 anos, aqui de São Paulo, e a da Jurema e da Nicinha, moradoras da Rocinha, no Rio de Janeiro, juntas há mais de 40 anos e mães de oito filhos. Mais recentemente, da jogadora da seleção brasileira de futebol feminino Cris Rozeira, casada com a advogada Ana Graças e mãe do Bento, de seis meses.

Tenho muitas amigas lésbicas e trabalho com diversidade todos os dias. Por isso, realmente não me faltam referências e coleciono cada dia mais e mais exemplos de famílias inspiradoras formadas por duas mães. Ainda bem.

Mas sei que ainda sou exceção.

Meu avô de 76 anos, que é como um pai para mim, um dia terá bisnetos gerados por duas mães e provavelmente não conhece nenhuma família neste formato. A mesma coisa acontece com professores, médicos, motoristas de ônibus, funcionários públicos, futuros colegas de trabalho, enfim.

Com pouca representação positiva e realista nas novelas da TV aberta, por exemplo, as pessoas continuam com pouca ou nenhuma referência de famílias não heteronormativas. E é por isso que o nascimento das filhas gêmeas de Nanda Costa e Lan Lanh, no último dia 19, é tão importante.

Quando a atriz e a percussionista anunciaram a chegada das filhas no Fantástico, em junho — em TV aberta, rede nacional e horário nobre — imediatamente lembrei do nascimento de Sasha, filha da Xuxa, que em 1998 ganhou uma reportagem de 10 minutos no Jornal Nacional e marcou o imaginário nacional.

Ver uma família com duas mães ocupando esse mesmo espaço de destaque me emocionou muito — e quando tive a oportunidade de dizer isso à própria Lan Lanh, por telefone, durante uma entrevista, ela me contou que, quando lançou a música “Duas Mães”, recebeu imagens de crianças que têm duas mães cantando sua letra, que diz: “Não tenha medo/nós somos fortes/tem duas mães/você tem sorte”.

“Quando fiz essa música, não imaginava trazer tanta representatividade. E o que mais me emocionou foi receber o retorno dos filhos de dupla maternidade. Recebemos tantas mensagens de crianças, meninos e meninas que têm duas mães, que fomos nos conectando a outras famílias como a nossa”, me contou, por telefone.

Já são mais de 80 mil uniões homoafetivas registradas no Brasil, entre casamentos e uniões estáveis, sem contar as relações que não estão registradas, mas que são casamento — caso de Jurema e Nicinha, citadas no começo do texto, que nunca assinaram um papel em cartório, porque se apaixonaram um muito antes de existir essa possibilidade.

Mas prova de que a maternidade lésbica, ou dupla maternidade, ainda não é plenamente reconhecida no Brasil são os incontáveis relatos de entraves burocráticos: mães enfrentam problemas no registro dos bebês em cartório e na hora de emitir o CPF deles, por exemplo. Tem criança que passa meses sem certidão de nascimento porque alguns cartórios dificultam o processo.

E também relatos de preconceito. Perguntas como “quem é a mãe de verdade?” e “se importa em ser tratada como tia?” aparecem nas histórias de muitas das mães lésbicas que compartilham sua histórias comigo e com Universa.

A última vez que uma família formada por duas mães ganhou espaço na TV aberta, pelo que sei, foi há 20 anos, quando Cássia Eller era viva. Seu casamento com Maria Eugênia Vieira Martins não pôde ser registrado em cartório, mas garantiu que, depois de morrer, em 2001, seu filho, Chicão, fosse cuidado por sua outra mãe. Isso abriu espaço para que a Justiça reconhecesse, apenas uma década depois, a união homoafetiva.

Se há 20 anos o amor de Cássia e Maria Eugênia fez a opinião pública defender a dupla maternidade antes mesmo que a Justiça o fizesse, imagine o quanto podemos caminhar com a família de Nanda e Lan Lanh.

Deixo a resposta com elas:

“Todo mundo pergunta como vai ser criar essas crianças em meio a tanto preconceito, mas a gente vai continuar caminhando com a coragem que a gente tem de viver, de ser feliz”, me disse a percussionista, há dois meses. “Vale a pena, porque vamos deixar para as nossas filhas um terreno muito mais bonito, mais igual e mais justo do que aquele por onde nós caminhamos até aqui”

Fonte: Universa

Outras Notícias

Anoreg RS

Ação promovida pela Anoreg/RS e Fórum de Presidentes em apoio aos cartórios do ES é concluída
19 de abril de 2024

Ao todo, mais de R$ 27 mil foram arrecadados entre pessoas físicas e pessoas jurídicas.


Anoreg RS

Novo Código Civil: Senado recebe anteprojeto de juristas e analisará o texto
18 de abril de 2024

O Senado recebeu oficialmente nesta quarta-feira (17) o anteprojeto do Código Civil elaborado por uma comissão de...


Anoreg RS

“A possibilidade de o cidadão acessar todos os serviços extrajudiciais direto de sua casa, do local de seu trabalho, ou onde estiver, é, muito além de uma comodidade, um fator de estímulo à segurança jurídica”
17 de abril de 2024

Desembargadora Fabianne Breton Baisch, corregedora-geral da Justiça do TJRS, fala, entre outros assuntos, do...


Anoreg RS

Código Civil: conheça as propostas de juristas para modernizar a legislação
17 de abril de 2024

Senadores e deputados terão um ponto de partida avançado para debater e aprimorar o Código Civil (Lei 10.406, de...


Anoreg RS

Decreto n. 11.995/2024 institui o Programa Terra da Gente e dispõe sobre a incorporação de imóveis rurais no âmbito da Política Nacional de Reforma Agrária
17 de abril de 2024

Foi publicado no Diário Oficial da União (D.O.U. de 16/04/2024, Edição 73, Seção 1, p. 1), o Decreto n....


Anoreg RS

Anoreg/RS e Fórum de Presidentes promovem reunião mensal para atualização de pautas da categoria
17 de abril de 2024

Coordenado pelo presidente da Anoreg/RS, Cláudio Nunes Grecco, encontro online aconteceu nesta quarta-feira (17/04).


Anoreg RS

Dificuldade para registro da transferência do imóvel justifica emprego de usucapião
16 de abril de 2024

A ação de usucapião pode, excepcionalmente, ser utilizada para regularização de imóvel nos casos de...


Anoreg RS

Receita Federal do Brasil divulga Instrução Normativa nº 2186/24 sobre apresentação da DOI por meio de plataforma web
16 de abril de 2024

Dispõe sobre a Declaração sobre Operações Imobiliárias (DOI) e define regras para a sua apresentação.


Anoreg RS

Cônjuge não responde por dívida trabalhista contraída antes do casamento
15 de abril de 2024

Para o colegiado, não se verifica dívida contraída em benefício do núcleo familiar, que obrigaria a...


Anoreg RS

Nota de pesar – Anoreg/RS e Fórum de Presidentes comunicam o falecimento do Registrador Paulo Heinrich
13 de abril de 2024

Um colega dedicado, que doou seu tempo para sedimentar a história da atividade registral gaúcha, deixando em...